sábado, 15 de novembro de 2014

Catraca dupla: "É gado não!"

Novamente na vanguarda do transporte público, Fortaleza testa catracas duplas nos ônibus.


Chamou bastante a atenção nos últimos dias a notícia da instalação de catracas "duplas" em ônibus de Fortaleza, para teste. O objetivo, segundo os autores (e com a ciência da Etufor), é impedir que as pessoas viajem sem pagar.
A instalação surrealista.
Foto: Jornal O Estado

A novidade foi implantada em linha que circula na Grande Messejana e recebeu críticas dos usuários, como mostraram as reportagens televisivas. Entre elas, a dificuldade de passar pelo equipamento, que é o nosso assunto aqui, afinal deveríamos estar em um momento de incentivo ao transporte público para diminuir o número de automóveis particulares nas ruas. Visto dessa ótica, não parece muito convidativo tomar esse ônibus, portanto ganhar novos usuários definitivamente não está nos objetivos. Quando se pensa em mães que andam com crianças, pessoas de baixa estatura, gente com sacolas de supermercado ou outros pacotes, podemos ver que a vida delas também não vai melhorar com esse novo aparelho.

Chama atenção ainda o fato de que as catracas dentro de coletivos são elementos arcaicos, em desuso há muito tempo na maioria dos países. Em alguns, faz tanto tempo que foram abolidas que os mais novos nunca viram. Numa pesquisa rápida na internet, o único lugar que ainda utiliza catracas que encontramos é o Paraguai (e está retirando!). Nesses países, todos - idosos, crianças, pessoas com sacolas, gestantes - entram pela mesma porta, já que a cidadania é para todos, literalmente sem obstáculos. Dessa forma, podemos dizer que, se o Brasil todo está atrasado nesse tema, Fortaleza está correndo vigorosamente em direção ao atraso com essa catraca.

Se nos apegarmos aos argumentos usados - assaltos, vandalismo, passageiros sem pagar - nos damos conta facilmente que a catraca dupla não vai impedir nenhum deles, mas só atrapalhar todos que tenham que pagar a passagem e passar. Afinal, sabemos que vândalos não se intimidam em quebrar nada, e muitas vezes o assaltante paga a passagem pra agir em seguida. Sobre pular, esse vídeo do Uol é autoexplicativo.




Mas e nesses outros países, o ônibus é de graça? Não, e como aqui, um bocado de gente também anda sem pagar. O sistema funciona na confiança, pagando logo que se entra no veículo e com fiscalização e multa alta pra quem não paga. A diferença entre esse procedimento e o nosso é o respeito pelo cidadão, e um transporte público mais humano e menos bovino.

Como é um "teste", esperamos que esse tipo de aparelho seja aposentado o quanto antes. E, num exercício de criatividade otimista ao extremo, seria interessante ver uma empresa fazer um outro teste, retirando as catracas de algumas linhas. Quem sabe o resultado seria a mesma arrecadação e passageiros mais empoderados e satisfeitos? ;)

Até a próxima!

sábado, 4 de outubro de 2014

A Rua e as eleições


Um dos motivos alegados pelas pessoas para não acompanhar a política é, entre várias coisas, o de não ouvir assuntos interessantes e aplicáveis à sua vida. Tudo bem, claro que o PIB, Banco Central e outras coisas são bem importantes, mas será que não há assuntos negligenciados? Será que são menos importantes e urgentes? Afinal, durante as campanhas, nos debates e entrevistas, os assuntos do nosso dia-a-dia foram abordados?


https://twitter.com/leandraleal/status/517883067533623297


Durante o último debate presidencial na TV, quinta-feira passada, esse tweet acima, de uma atriz global, foi bastante mencionado e serve bem pra ilustrar a invisibilidade de alguns assuntos. Não que nenhum candidato tenha planos para a cultura, por exemplo, mas o fato é que nenhuma pergunta abordava esse tema, nem nos assuntos pré-selecionados pela emissora. Nem em outros debates foi levantada a questão. Dá mesmo a impressão de que estão fora do jogo político.

E quanto ao esporte? Uma das formas mais simples, saudáveis e baratas de educar e reduzir a violência simplesmente não é citada no país que, dentro de dois anos, vai sediar os Jogos Olímpicos! Pelo jeito, temos tudo pra deixar passar a oportunidade pra debater o esporte como inclusão social e saúde pública, por exemplo. 

Esses assuntos parecem não ter muito a ver com o que costumamos falar aqui, estão meio deslocados no blog? Então talvez valha lembrar que não tinha nenhum papelzinho na urna do debate escrito mobilidade urbana. Se esse assunto está cada vez mais na moda, não deveria estar sendo debatido seriamente por todos os candidatos? Afinal, o governo federal deve o maior incentivador da definição das políticas de mobilidade. O que será que os candidatos pensam (ou não pensam) sobre isso? 

Podemos lembrar, numa perspectiva mais ampla, do direito à cidade, e do que precisa ser feito para que não tenhamos que viver todos em bairros-dormitório distantes de onde está a vida da cidade, sem mais lazer do que o que temos dentro de casa e sendo obrigados a perder tempo, dinheiro e saúde em deslocamentos, quando conseguimos nos deslocar, seja pelo trânsito, seja pelo transporte precário, seja pela insegurança.

À primeira vista, tudo isso parece simples, frente aos "grandes assuntos" como educação, saúde e outros, mas a importância desses assuntos na vida da gente e das nossas cidades é muito grande, e estão todos interligados. Então não, não são assuntos menos sérios! 

Preferências pessoais à parte, temos que reconhecer que, desde a redemocratização, avançamos em muita coisa. Mas temos que reconhecer também que o caminho para chegar ao lugar em que queremos morar ainda é comprido. Um bom passo (e do tamanho exato das nossas pernas) é nos informar e votar em candidatos que parecem se preocupar com as mesmas coisas que nós. Estamos vendo que não podemos nos acomodar, porque a informação que chega nem sempre é a que a gente precisa, então, toca pesquisar. E mais ainda, depois de votar, saber exigir o que é necessário de quem tiver vencido, seja lá quem for.

Bom voto!



quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Sobre o Parque Madrid Rio.

Que semelhança existe entre Fortaleza e Madrid? Poucas, é verdade. São de dois países de continentes e culturas distintas, mas as duas são cortadas por rios igualmente importantes para a cidade. Do lado de cá, o Rio Cocó e do lado de lá, o Rio Manzanares. Do lado de cá, ainda não aprendemos a valorizar o que é nosso, do lado de lá... Bem, agora mostro pra vocês!

Rio Manzanares, Madrid, Espanha, outono de 2013.